15 de junho de 2006




Daqui a sessenta anos, estarei no meu leito de morte, e chamarão um padre, ou qualquer outra autoridade religiosa dominante no momento, que vai sentar numa cadeira colonial do meu lado na minha mansão em Lisboa - sim, pois aos vinte e dois eu já tinha começado uma Nova Vida de sucesso em Portugal. Esse padre ou qualquer outra autoridade religiosa no momento vai falar pausadamente, em meio aos meus leves gemidos de dor por todo o corpo, que eu preciso rapidamente confessar meus pecados, pois só assim compraria a minha vaga no céu ou qualquer outro sinônimo de paraíso dominante no momento. Enquanto ele falar, eu darei uma última olhada nos meus filhos, já com seus cabelos brancos, lembrarei de quando a pegava-os no colo e esboçarei um singelo sorriso para eles. Então eu olharei para o padre ou qualquer outra autoridade religiosa dominante no momento e em seguida olharei pro céu após mais um gemido de dor. Fecharia os olhos e diria sem abrir:
- Meu único pecado foi nunca ter mentido quando disse "Eu te amo" para alguém - E numa última puxada de ar, morreria como quem entra num sono profundo.
Aí então, claro que o padre ou autoridade religiosa dominante no momento vai me olhar com um triste olhar. "Isso não é pecado!", pensará enquanto imagina que essa frase me condenava automaticamente ao Inferno ou qualquer sinônimo de lugar ruim para passar a eternidade dominate do momento.
*****
Banalizaram a palavra "Eu te amo". Não tem escolha, se você a usa corretamente, prepare-se para se passar por um mentiroso. Eu me lembro que dá primeira vez que disse isso ouvi um "Você é um falso". Depois de uns anos ouvi um "Você não sabe o que diz". Mais um tempo eu ouvi ou "não parece". Custou, mas sabiam que algumas vezes eu ouvi um "Eu também"? Pois é.
Mas olha o problema, é triste ouvir um "Você é um falso" novamente. Achei que já tinha aprendido a demonstrar minha sinceridade, mas não. Tem algo errado comigo ou com mundo. E como dia desses eu podia dizer eu te amo para alguém que eu simplesmente 'gosto', e mesmo assim preferi não ser falso, o mundo é que tá errado. Se eu disse "Eu te amo" para alguém, sim, eu estava sendo sincero. talvez não como a pessoa gostaria que fosse, talvez mais do que a pessoa gostaria. Mas se eu digo, é porque de alguma forma, eu amo essa pessoa.
O que fazer quando se não acredita no que falamos? Bom eu não sei. Ainda. Talvez esperar que a pessoa repare que eu não estava mentindo, talvez cometer uma pequena loucura para que a pessoa enxergue isso. Mas uma coisa é certa: Mentiroso, necas. E sim, como eu disse antes, não vou desistir fácil de mais nada. Dessa vez, desistir fácil de mais nada.

Adaptado.

0 comentários:

Artigos recentes

Comentários recentes